Você acabou de sair do estúdio gravando “Reconquista”. É um CD do Bad Chopper ou CJ Ramone?
Na verdade, vai ser o primeiro disco só como CJ Ramone. O cara que começou o Bad Chopper comigo – Mark Sheehan – morreu, então eu decidi fazer outras bandas e fazer as coisas dessa maneira, mas tem sido muito difícil reunir uma banda e fazer turnês. Então achei melhor fazer isso sozinho.
Você escreveu em sua página no facebook que esse disco é um tributo a Joey, Johnny e Dee Dee. Por quê? O disco soa como os Ramones?
Definitivamente, é uma saudação aos Ramones. As músicas desse album são as músicas que eu queria ter feito quando a banda ainda estava junta. Consigo ouvir Joey cantando-as, imaginar Johnny tocando as linhas de guitarra. Elas se encaixariam muito bem mesmo nos Ramones. Teria sido um “Adios Amigos!” melhor do que o que foi lançado. Toda a ideia desse disco foi dizer obrigado aos Ramones, obrigado aos fãs e finalmente fazer um disco do CJ Ramone [risos]! Sempre quis fazer um disco do CJ Ramone. Tive outras bandas e essa é a minha oportunidade de fazer isso. Na verdade, acabei de voltar da California onde terminei as gravações. Tive Steve Soto, que era baixista dos Adolescents, meu amigo José Medeles que tocou bateria com os Breeders, com o 22 Jacks e mais uma monte de bandas por aí. Ele é um baterista incrível. Tem uma coisa orgânica. Quando chegamos ao estúdio na Califórnia – The Racket Room -, gravamos as músicas e tivemos vários convidados tocando solos no disco, o que é bom. Estou esperando os masters agora, mas já está tudo terminado.
Você já sabe quando o disco vai sair ou ainda é cedo para isso?
Espero que seja lançado até julho. Se conseguir lançar até julho, vou poder fazer turnê.
O Brasil está nos planos?
Ainda não tenho planos para o Brasil agora, mas já recebi alguns convites para tocar na Argentina este ano.
Você pretende voltar com Los Gusanos ou a banda acabou mesmo?
Los Gusanos, não… Na verdade, nós chegamos a gravar um segundo disco e eu, recentemente, encontrei as fitas. Cheguei a pensar em lançar [esse material], mas estavam em péssimas condições, então tive que desencanar. É uma pena porque o segundo disco dos Los Gusanos estava realmente bom. Eu estava muito feliz.
[Los Gusanos] soa muito diferente do que você fazia com o Bad Chopper ou em carreira solo.
Em cada banda que eu estava… Los Gusanos e Bad Chopper nunca foram… No que diz respeito a composição, nunca foi um o meu som porque eu sempre colaborava com outras pessoas. Mesmo eu escrevendo as músicas, deixava os outros tocarem do jeito que eles queriam. Nunca disse como eles deveriam tocar. Então cada um trouxe seu próprio estilo. A musicalidade, sabe?
Quando os Ramones anunciaram a aposentadoria, Johnny disse que queria sair de cena enquanto a banda ainda estava boa. Ele não queria que os Ramones soassem como uma banda cover dos Ramones. Atualmente, você e Marky fazem shows tocando as músicas dos Ramones. Você acha que Johnny aprovaria isso?
Não, não! Ele nunca gostaria de uma coisa dessas. Eu comecei a tocar as músicas dos Ramones porque estava comemorando o 20º aniversário – em 2009 – de quando eu entrei para a banda. Foi aí que eu comecei a tocar só Ramones. Começamos a receber mais e mais propostas. As pessoas adoram aquelas músicas e eu amo tocá-las, sabe como é? Sempre vou tocar algumas músicas dos Ramones. Não se pode apagar o passado… [Risos] Amo os Ramones e quero ser o nome… quero manter os Ramones vivos Quero que as pessoas se lembrem dos Ramones. É importante pra mim, sabe?
Ouvi dizer que que você fez o teste só para conhecer a banda, porque você era um grande fã.
Sim, foi mesmo! [Risos] Eu estava na Marinha. Fiz o teste porque achei que ia ser incrível conhecer os Ramones.
Você sente que você representava ops fãs quando estava em cima do palco com os Ramones?
Sim, sempre me senti assim. Tinha uma boa relação com os fãs porque eu também era um fã por tanto tempo. Era tipo “ei, um de nós conseguiu chegar até aqui”. Eu era um fã antes de virar um integrante da banda. Era uma loucura entrar pra banda, sabe? Estranho, até o último dia. Sempre tive uma sensação estranha de estar tocando com eles, mas era uma coisa ótima de compartilhar com os outros fãs. Acho que a maioria dos fãs entendiam que eu estava muito feliz de estar em cima do palco depois de ter sido um fã por tanto tempo.
Dá pra ver isso assistindo os videos da época que você entrou para a banda. Johnny, Joey e Marky estavam sérios e você com uma cara de “Uau!”
Pois é![Risos] Pois é!
Realmente aconteceu o treinamento com Johnny de “Como se tornar um Ramone”? “Olhe para frente”, “nunca olhe para trás”, “ande para frente”…
Sim! O que mais me ajudou foi que eu tinha acabado de sair da Marinha. Me ajudou a seguir as regras e a lidar com Johnny. Uma grande ajuda!
Como foi substituir alguém tão carismático e talentoso como Dee Dee Ramone?
Era muito estranho porque… Muitas vezes, quando eu estava na banda, quando eu ia falar sobre a banda eu sempre dizia “os Ramones” ou “eles”. Raramente eu dizia “nós” porque era estranho ser fãzaço e depois estar na banda. Era esquisito. Quando você está numa banda com tanto charisma e qualidade sonora, não é fácil ficar próximo deles, sabe? Eu tentava ser confiante e me encaixar… Era muito, muito difícil. Minha intenção, quando eu estava na banda, era fazer com que eles voltassem a ser excitantes em cima do palco outra vez. Fazer o meu melhor trabalho e nunca envergonhá-los ou me envergonhar. Meu maior medo sempre foi que eu não fosse bom o bastante, que eu não seria o cara certo para tocar com os Ramones. Que eu não subisse no palco toda noite e tocasse o melhor que eu pudesse e não desse 100% e ser tão bom quanto eu pudesse. Essa era minha maior motivação: garantir que eu fizesse o meu melhor por que era o que os Ramones mereciam.
Li que Ed Stasium disse que, quando produziu Mondo Bizarro, a energia estava renovada. E Joey cantava “tudo está certo, CJ está aqui”. Como foi isso?
Tenho certeza que, para mim, foi diferente de qualquer outra pessoa. Era meu primeiro disco de estúdio com os Ramones e eu estava muito animado. Estávamos tocando as músicas havia algum tempo, então quando entramos em estúdio, eu estava bem confiante. Foi inaccreditável! Trabalhar com Ed Stasium que fez meus discos preferidos dos Ramones. Sem falar que eu estava tocando com os Ramones, eu estava quase explodindo! Muito animado com isso! Foi muito... é até difícil colocar isso em palavras… Muitas vezes, quando me fazem perguntas como essa, a melhor resposta que posso dar é que eu era um grande fã. Imagine que você é um fã, você entra para os Ramones e vai fazer isso [gravar com Ed Stasium]. É exatamente assim que eu me senti! [risos]. Como eu disse, era um fã antes de estar na banda, então... é como qualquer outro fã se sentiria nessa situação. Gravar meu primeiro disco de estúdio com os Ramones e com Ed Stasium produzindo foi inacreditável para mim. Sempre digo: Não sei como isso poderia ficar melhor. E, toda vez que digo isso, acontece alguma coisa que melhora mais ainda.
Assisti alguns de seus shows no Brasil e as coisas ficam meio selvagens por lá. Lembro de ver pessoas correndo atrás de você, te seguindo até o hotel, como faziam com os Beatles. Aí fui ver seu show em Farmingdale [cidade onde CJ mora] e todo mundo falava “ah, é só o Chis...”
É, muito diferente! [risos]
Você se sente mal por os Ramones não serem tão grandes nos EUA como são na América do Sul?
Nunca me incomodei por os Ramones não serem tão grandes aqui; Na minha cabeça, a contribuição dos Ramones não foi... não me importa se eles não são tão grandes [nos Estados Unidos] porque o mais importante da carreira deles é a quantidade de pessoas que eles influenciaram e não quantos discos eles venderam ou quantas pessoas foram aos shows ou nada disso. É quantas vidas eles mudaram. O tamanho da influência e do impacto que tiveram na música. Para mim, isso foi o mais importante da carreira deles. Para mim, foi isso que os fez grandes, não necessariamente ter vendido milhões de discos. Eles mudaram a vida de muitas pessoas.
Você fica chateado por Joey e Johnny que estavam lá desde o início e não puderam ver o quão grande eles são agora? Por exemplo, Joey não chegou a entrar no Rock and Roll Hall of Fame...
É, isso é uma pena. Espero que de algum lugar, de algum jeito, ele esteja assistindo e curtindo isso agora, sabe?
E você foi à cerimônia de premiação?
Sim, eu fui. Na verdade, Dee Dee tinha um ingresso sobrando e me convidou.
É uma sacanagem você não ter entrado também. Você ficou na banda por oito anos!
[Risos] Não me incomodou em nada. Para mim, o Rock and Roll Hall of Fame não significa absolutamente nada! É um bando de sujeitos gordos e carecas. Não são fãs, não são pessoas que gostam de música de verdade. Quando Johnny me ligou e disse “bem, eles não vão indicar você. Marky foi indicado, mas você não”, eu disse “não ligo!”. Disse para ele “Johnny, você e Joey me disseram qual foi a minha contribuição para os Ramones. Não preciso que o Hall of Fame me dê um tapinha nas costas e me diga que contribuí”.